quinta-feira, 21 de março de 2013

Noite.

Não será fácil dormir hoje, aliás dormir tem sido um grande desafio para mim.
Mas este desafio está valendo a pena afinal, meu corpo já não está tão cansado.
Antes eu passava a noite toda bebendo e me drogando, muitas vezes não sabia nem como cheguei na minha casa, quem me levou. Me via no carro de pessoas desconhecidas que me levavam para casa. Agradeço muito por nunca ter acontecido nada comigo, que nenhuma destas pessoas tenha me violentado ou algo do gênero pois já me vi em casas de desconhecidos, carros, andando na rua com pessoas que hoje em dia nem sequer lembrarão meu nome.
Realmente foi algo Divino que me protegeu, pena que muitos (as) não estão aqui como eu para contar e compartilhar estas mensagens...
Gostaria de cita brevemente uma pessoa que faz parte da minha vida há 4 anos e dois meses, que é motivo da minha alegria, quero citar brevemente pois ela merece um post dedicado todo a ela, mas não será hoje, rs.
Minha namorada, amiga, companheira, que já passou por tantas situações chatas comigo mas que continua aqui, ao meu lado, sempre me dando a mão quando preciso. 
Eu te amo tanto E, sem você nem quero imaginar como eu estaria.
Foi você que me apresentou esta música e hoje vou compartilhá-la pois é uma letra de fé e força, algo que eu preciso neste momento e que quero encontrar, cada vez mais.
Hoje o dia foi muito chato, marcado por episódios tristes, mas ao lembrar desta música pude compreender que foi só o dia de hoje, e o hoje servirá como aprendizado para os que estão para vir ( e não será fáceis).
Eu te amo muito, obrigada por fazer parte da minha vida. Parte essencial.
<3


' Sem você não tem graça...'


Estou sentindo minhas forças indo embora

Mas tua presença me renova nessa hora
O Senhor vem e me leva além
O meu sonho de chegar esta tão longe
Sou humano não consigo ser perfeito
O Senhor vem e me leva além

Março, 21 de 2012. (Quinta-feira)

Nem sei descrever o que sinto...
Como descrever o que sentimos não é mesmo?
Muitas coisas aconteceram hoje.
Hoje eu permaneço limpa porém, no meio de vários desentendimentos eu ouvi do meu pai, o mesmo que disse que naquele dia não daria que havia 'desistido de mim'.
É horrivel sentir-se o objeto de dor da sua família, olho para os meus pais e vejo tantas dores.
Sinto pena da minha mãe, das coisas que acabo lhe dizendo quando estou com raiva do 'mundo'.
Como uma criança pode ser tão machucada sentimentalmente e crescer um adulto tão confuso e triste de si.
É quase impossível não pensar em suicídio, eu penso todas as vezes, ultimamente todos os dias.
Acho que está será a única 'salvação da minha vida'.
Meu corpo precisa de paz, meu espirito precisa de paz. Quero ser uma pessoa melhor, quero olhar para tudo isto e enxergar como passado.
Ontem olhei para um dos comprimidos que tomo e pensei bem forte: 'eu não quero mais usar isto...'
Hoje eu respirei bem fundo e repeti pra mim mesma: 'Eu não vou mais usar isto...'
Foram problemas e mais problemas que acumularam-se. Foram conversas e mais conversas deixadas para trás.
A cocaína não deixou o meu problema menor, na verdade deixou, por questão de horas. Horas que depois meu corpo cobrava de mim física e emocionalmente. Hoje a cocaína intensificou meus problemas e a 'cura' ou aprendizado do problema piorou.
Nada substitui os danos causados na sua vida emocionalmente, nem conversas de buteco entre algumas carreiras e cervejas.
Não é fácil, acho que mesmo com todo tratamento com psicologos, psiquiatras e grupos de apoio a ajuda espiritual será necessária.
Entendam, não é fácil mover-se sozinha, me sinto um bebê muitas vezes. Queria ser mais forte, queria entender melhor as coisas...queria ser mais positiva e auto- confiante.
Preciso pensar e encontrar um controle, não a cura, mas uma forma de conviver com o problema.




Março, 21 de 2013 (Quinta-feira)

Dói...
Ah, como dói....
Hoje eu decidi dar uma escapadinha...
Não fui à reunião do CAPS, umas 13h acordei, almocei, resolvi tomar um banho. Foi tão bom tomar banho, a sensação da água purificando o corpo...
Pedi ao meu pai que me levasse ao segundo horário das reuniões (15h às 17h), ele disse que tinha serviços e ficaria fora do horário. Eu entendi, coloquei o pijama novamente e fui pra cama assistir um pouco (mais) de tv.
Umas 16h ele disse que iria embora, e eu peguntei se ele poderia me levar para comprar sorvete, tenho tido muita vontade de comer (principalmente sorvete) devido as fissuras e medicações.
Ele me levou, comprei o sorvete, ele insistiu em dizer que eu estava muito agitada e isso me perturbava. Como eu queria ser 'grande', estar bem, não fazê-lo passar por tantas coisas...
Sempre desejei sua atenção pai, e hoje em dia sofro com os pensamentos da minha infância, do quanto precisava de você como criança, e você sempre me tratando como adulta.
Quando estava saindo do banho hoje me lembrei de quando descobri o que era sexo, tinha 6 anos , minha mãe que havia me contado. Meu sempre ocupado não estava presente. Normal, estamos acostumados a isto, a minha fica com os filhos, e o pai no trabalho, pois é...
Ela conversou comigo e disse que depois falaria junto com o meu pai. Na mesma noite chamei meu pai pra conversar 'a mãe falou que voce ia me explicar da onde vem os bebês...', ele passou brutalmente perto de mim e disse que naquele dia não daria...
Naquele dia e nunca mais...
Ta dificil de escrever agora, quem sabe mais tarde...
O dificil de ficar bem é que as pessoas que tentam te ajudar te deixam completamente insano...

Mias tarde...

quarta-feira, 20 de março de 2013

Março, 20 de 2013 (Quarta-feira)

Hoje...
Ah, quando me diziam eu achava que era brincadeira, era coisa de gente 'careta' e 'sem graça'...
Essa fissura te corrói. Você acorda e vai dormindo sentindo-a. Fica tramando planos e planos para sair de casa só pra mandar uma carreirinha...
Passei o dia tentando fazer coisas que não me lembrassem que a noite chegaria e com ela a vontade ficaria maior. Comi muito doce, ultimamente com os remédios e as fissuras como desesperadamente, doces e mais doces. É claro que é melhor do que estar cheirando horrores, mas por trás deste desespero para comer sempre tem alguma outra coisa.
Estou estudando a mim mesma. Todos meus passos e pensamentos. Um destes 'trabalhos de mim mesma' foi reconhecer o que mudou nessas duas semanas sem uso, coisas que aconteceram e que antes eu não notava.
Notei que a presença dos meus familiares é algo realmente divino, o tempo que tenho passado com a minha mãe, uma pessoa tão batalhadora e guerreira, que me faz rir muito, e que antes eu deixava assistindo tv sozinha a noite (ou deixava sozinha na sala enquanto eu me trancafiava em meu quarto), é algo maravilhoso.
Notei que comer é muito bom, sentir o gosto das coisas, conseguir escrever, algo que até ontem eu não conseguia...
São coisas tão mínimas, mas que antes eu não via, as vezes eu não estava usando, mas mesmo não usando eu estava me tornando uma pessoa antissocial. Nada sem aquele 'grupo' de amigos tinha graça. Aqueles que me entendiam - eu julgava - aquelas pessoas que falava a 'minha língua'.
Sinto saudades do meu trabalho, da minha faculdade, de me sentir ativa, de estudar, conhecer coisas novas.
É dificil pois além de estar cuidando de um vício eu também tenho fatores psicológicos que já existiam antes mesmo do uso de álcool ou drogas.
Já foi chamado de depressão, síndrome do pânico, ansiedade depressiva, depressão suicida...
Não sei, só sei que é algo que dói muito, bate aquele vazio, aquele desespero, aquela vontade de ser melhor, de ser ativa...
Então eu saio metendo os pés pelas mãos, fazendo coisas demais, caio no desespero, na agonia pois não consigo dar conta....e vira uma verdadeira bola de neve.
É dificil, bem dificil...mas agora estou respirando melhor, e tentando enxergar as coisas de formas mais positivas.
Notei que eu sempre andei de cabeça baixa e nunca parei para ver as coisas 'de cima', que as coisas estavam indo muito bem para mim (principalmente no meu trabalho) e a inveja existe mesmo, temos que aprender a falar menos e ouvir mais.
E as coisas vão assim, vou notando umas para tentar entender outras.

Para que o post não fique muito cumprido e ninguém leia ( aja paciência), vou citar rapidinho algo que me ocorreu ontem.
Ocasionalmente (ou não,pretendo contar isto mais pra frente), na mesma época em que choravamos o luto pelo Chorão eu estava quase escrevendo minha certidão de óbito...
Ontem fui assistir a entrevista que sua mulher deu para o Fantastico, e muitos coisas fizeram sentido, encontrei um certo 'conforto' em suas palavras e realmente espero que este depoimento (de uma mulher que lutou e amou até o fim ) sirva de conforto para muito outros familiares ou dependentes.
O Chorão foi, sem dúvida (pelo menos pra mim), um enviado, e sua morte não foi em vão.
Foi preciso que ele morresse para que eu, ou tantos outros, enxerguem e temam por sua vida.
Pois cada 'tiro' pode ser fatal.


terça-feira, 19 de março de 2013

Março, 13 de 2013 (Terça-feira)

Hoje o dia não foi fácil.
Desde que iniciei os tratamentos contra a cocaína, o alcool, e a maconha esta foi a primeira vez que sai de casa na parte da tarde.
Antes de iniciar meu discurso vou citar alguns fatos.
 Tenho 20 anos, emprego, moro com meus pais, mas não citarei meu nome, assim como não irei citar o nome de nenhum dos personagens (verídicos) de toda essa trama, o nome dos mesmos será fictício.

Voltando ao dia de hoje ...
Minha primeira vez no CAPS ( Centros de Atenção Psicossocial ), no meu caso para 'pessoas com problemas de drogas', seja ela alcool, tabaco, etc.
Na minha sala todos estão buscando ajuda e tratamento para a dependência pelo uso de alcool, sou a único com o caso de cocaína.
Conversar e buscar formas de entender o foco do problema é excelente porém, ao chegar em casa me deparei com uma fissura que eu jamais achei que fosse acontecer.
Inventei formas de sair sozinha, porém, meus pais não me deixam sozinha nem quando estou medicada e nao tenho como sair de casa.
Estas coisas que passam na tv nunca aconteceram comigo, e mesma assim sou usuária, engraçado não?
Nunca roubei ninguém para comprar 'farinha', nem tive crises e quebrei coisas em casa.
Entendo que existem casos e casos mas você não precisa chegar em extremos para reconhecer o vício.
Enfim, cheguei em casa, tive fissura, quis sair, inventei uma mentira para poder sair sozinha porém, minha mãe inventou de 'ir comigo'. Claro que eu inventei mais e mais mentiras mas ela foi segura em suas atitudes e eu acabei ficando em casa.
Foi aí que tive a ideia de expor toda essa fissura, as mãos trêmulas, a vontade de defecar, o coração acelerado, neste blog pois eu sabia que esse efeito passaria e em algum momento o remédio indicado pela minha psiquiatra para conter a minha ansiedade e fazer com que eu durma, faria efeito.
Eis que ja está fazendo, e não é que a fissura passou? Então pra quê? Ir pra rua, neste frio (em São Paulo a máxima prevista é de 18º ), para encontrar pessoas que eu só conheço para dar uns 'tiros', me arriscar pra quê? Com a quantidade de remédio que tomo corro o risco de ter uma parada cardíaca, fora os riscos que corro ao me expor estas horas na rua, posso perder a confiança dos meus pais, namorada, enfim...A cocaína me faria um efeito de no máximo algumas horas, que podem fazer com que eu perca coisas para sempre...
Então, por hoje, só por hoje, eu vou ficar em casa!

O primeiro dia...

A idéia de criar este blog vem de tempos.
Todas as vezes em que eu estava 'naquele grau' eu vinha fissurado pra casa e ficava horas na internet jogando a palavra: cocaína no google pra ver o que eu achava.
Poucos videos, vários blogs e posers que utilizavam o nome 'cocaína' ou 'cocaine' comos fakes, como se a droga fosse mais uma dessas invenção barata da moda, e claro, vários blogs de ex usuários, ou de famílias de ex usuários (mortos ou não), nárcoticos anônimos e por aí vai.
Em algumas das minhas 'viagens', logo quando a depressão surgia eu me recordava que não havia nenhum blog que contasse claramente o dia a dia de um viciado., estas coisas que a gente só vê no discovery, mas que muita gente que não tem tv a cabo não sabe o que significa.
Este blog não tem o objetivo de incitar o uso da droga, muito pelo contrario, desejo expor aqui toda a angústia que um viciado luta para conviver sem a 'noiva de branco', mas com passagens diárias, utilizando termos que apenas os viciados reconhecem para que os mesmos identifiquem-se e assim como eu tive, tenham a força e coragem de reconhecer o vicio, procurar ajuda, e travar uma luta diária.
Não é fácil, mas não quero que seja impossível.

Comentários sempre serão bem vindos.