Ah, quando me diziam eu achava que era brincadeira, era coisa de gente 'careta' e 'sem graça'...
Essa fissura te corrói. Você acorda e vai dormindo sentindo-a. Fica tramando planos e planos para sair de casa só pra mandar uma carreirinha...
Passei o dia tentando fazer coisas que não me lembrassem que a noite chegaria e com ela a vontade ficaria maior. Comi muito doce, ultimamente com os remédios e as fissuras como desesperadamente, doces e mais doces. É claro que é melhor do que estar cheirando horrores, mas por trás deste desespero para comer sempre tem alguma outra coisa.
Estou estudando a mim mesma. Todos meus passos e pensamentos. Um destes 'trabalhos de mim mesma' foi reconhecer o que mudou nessas duas semanas sem uso, coisas que aconteceram e que antes eu não notava.
Notei que a presença dos meus familiares é algo realmente divino, o tempo que tenho passado com a minha mãe, uma pessoa tão batalhadora e guerreira, que me faz rir muito, e que antes eu deixava assistindo tv sozinha a noite (ou deixava sozinha na sala enquanto eu me trancafiava em meu quarto), é algo maravilhoso.
Notei que comer é muito bom, sentir o gosto das coisas, conseguir escrever, algo que até ontem eu não conseguia...
São coisas tão mínimas, mas que antes eu não via, as vezes eu não estava usando, mas mesmo não usando eu estava me tornando uma pessoa antissocial. Nada sem aquele 'grupo' de amigos tinha graça. Aqueles que me entendiam - eu julgava - aquelas pessoas que falava a 'minha língua'.
Sinto saudades do meu trabalho, da minha faculdade, de me sentir ativa, de estudar, conhecer coisas novas.
É dificil pois além de estar cuidando de um vício eu também tenho fatores psicológicos que já existiam antes mesmo do uso de álcool ou drogas.
Já foi chamado de depressão, síndrome do pânico, ansiedade depressiva, depressão suicida...
Não sei, só sei que é algo que dói muito, bate aquele vazio, aquele desespero, aquela vontade de ser melhor, de ser ativa...
Então eu saio metendo os pés pelas mãos, fazendo coisas demais, caio no desespero, na agonia pois não consigo dar conta....e vira uma verdadeira bola de neve.
É dificil, bem dificil...mas agora estou respirando melhor, e tentando enxergar as coisas de formas mais positivas.
Notei que eu sempre andei de cabeça baixa e nunca parei para ver as coisas 'de cima', que as coisas estavam indo muito bem para mim (principalmente no meu trabalho) e a inveja existe mesmo, temos que aprender a falar menos e ouvir mais.
E as coisas vão assim, vou notando umas para tentar entender outras.
Para que o post não fique muito cumprido e ninguém leia ( aja paciência), vou citar rapidinho algo que me ocorreu ontem.
Ocasionalmente (ou não,pretendo contar isto mais pra frente), na mesma época em que choravamos o luto pelo Chorão eu estava quase escrevendo minha certidão de óbito...
Ontem fui assistir a entrevista que sua mulher deu para o Fantastico, e muitos coisas fizeram sentido, encontrei um certo 'conforto' em suas palavras e realmente espero que este depoimento (de uma mulher que lutou e amou até o fim ) sirva de conforto para muito outros familiares ou dependentes.
O Chorão foi, sem dúvida (pelo menos pra mim), um enviado, e sua morte não foi em vão.
Foi preciso que ele morresse para que eu, ou tantos outros, enxerguem e temam por sua vida.
Pois cada 'tiro' pode ser fatal.
Isso fez todo o sentido pra mim...
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